segunda-feira, 21 de novembro de 2011

História da estratigrafia

A estratigrafia é uma ciência relativamente jovem, tendo sido publicado o primeiro livro monográfico da estratigrafia em 1913 por Amadeus  William  Grabau (1870-1946).  Este homem foi considerado o pai da geologia chinesa, desenvolvendo um trabalho designado por "Mollusca Cretácicos do norte da China", em 1923.  Grabau foi também o primeiro a utilizar o nome «fauna de Jehol», quando estudava a estratigrafia Mesozóica da China, em 1928.
        
Vamos então falar de algumas pessoas importantes para o desenvolvimento da doutrina e conhecimento da estratigrafia, sendo também, consequentemente, considerados fundadores da geologia:

·         Nicolaus Steno (1638-1686), foi o primeiro a definir um estrato como unidade de tempo, sendo este limitado por superfícies horizontais com continuidade lateral. Aparecendo assim o Principio da Sobreposição, este princípio diz que as rochas sedimentares são depositadas de forma horizontal, ficando por cima as unidades de rochas mais jovens e por baixo as unidades de rochas mais antigas, o que permite ordenar cronologicamente as diferentes unidades. Steno desenvolveu ainda outras ideias, tais como, os estratos que se depositam originalmente de forma horizontal e as outras superfícies de estratificação são lateralmente contínuas, o que constituí a base do Principio da Horizontalidade Original e Continuidade Lateral dos Estratos.
                                               

·         António Lazzaro Moro (1687-1764), estabeleceu uma subdivisão estratigráfica dos materiais da superfície terrestre, que poderia ser considerada a primeira existente. Este autor diferenciou as montanhas de rochas massivas não estratificadas, das montanhas mais recentes que as anteriores mas formadas por rochas estratificadas (podem conter fosseis contemporâneos do deposito).

  • Giovanni Arduino (1687-1764), foi o fundador da estratigrafia e considerado como o “pai da geologia em Itália”, professor de química, mineralogia e metalurgia em Veneza. Foi Arduino, possivelmente, que desenvolveu a primeira classificação de tempo geológico, tendo em conta o seu estudo da geologia do norte de Itália, em particular do penhasco de Recoaro Terme. Em 1735, dividiu a história da terra em quatro períodos: Primitivo ou primário (rochas não estratificadas e sem fosseis), secundário (rochas estratificadas, com fosseis), terciário (formados por restos das anteriores e perto das mesmas) e vulcânico ou quaternário.

·         Johann Gottlob Lehmann (1719-1767), mineralogista e geólogo alemão que se destacou pelo seu trabalho e investigações sobre o registo geológico, trabalho este que conduziu ao desenvolvimento da estratigrafia. Lehmann, juntamente com Georg Christian Füchsel e Giovanni Arduino, foi o fundador da estratigrafia, tendo como mérito a sua descrição precisa das rochas estratificadas. Este autor distinguiu trinta faixas de rocha sucessivas no sistema estratificado de Ilfeld e Mansfeld, e propôs a estrutura geológica daquele distrito acompanhada de uma série de diagramas e secções.

·         Georges-Louis Leclerc, Conde de Buffon (1707-1788), naturlista, matemático e escritor francês. Considerado um dos cientistas mais influentes do século XVIII, rompeu com a tradição, onde se pensava que a terra teria poucos milhões de anos e sugeriu que no mínimo teria 75000 anos. Foi o primeiro cientista a admitir que a terra teria sofrido, num largo espaço de tempo, variações na distribuição de continentes e mares.

·         Abraham Gottlob Werner (1749-1817), geólogo e mineralogista, fundador da moderna mineralogia e da geognosia. Os seus trabalhos contribuíram para a separação da geologia e mineralogia em ciências distintas. Werner foi também o responsável de uma controversa teoria neptunista sobre estratigrafia, defendendo e divulgando uma teoria explicativa da origem das rochas por precipitação química dos mares primitivos. Um ponto de vista mais fechado da estratigrafia porpocionou a Werner privilégios na aplicação duma divisão de materiais, baseada na de Lehmann e na utilização, pela primeira vez, do termo “formação” para apelidar conjuntos de rochas estratificadas (caracterizadas pela sua litologia e que correspondem a uma mesma idade). Sobrevalorizou a utilidade da correlação litostatigráfica, a partir da ideia errada de considerar as formações numa extensão mundial.  

·         James Hutton (1726-1797), geólogo, químico e naturalista escocês. Ao desempenhar o seu trabalho pioneiro na interpretação dos processos geológicos, Hutton foi considerado como o pai da geologia moderna. Este autor foi vitima de duras criticas, por parte de Werner e seus discípulos, por ter ideias contraditórias as ideias dominantes na época e serem ideias duma pessoa que não pertencia a nenhuma universidade de prestigio ou organismo oficial. Hutton pensava na terra como um corpo mudável onde as rochas estavam em constante erosão e que os produtos deste processo eram transportados pelas águas através dos oceanos, onde se depositavam posteriormente, e, por fim, formam novos sedimentos estratificados. Estes sedimentos estratificados quando consolidam dão lugar a rochas, as quais podiam elevar-se e iniciar um novo ciclo (processo de erosão). A maior contribuição de Hutton consistiu na sua teoria do “uniformitarismo” (também podendo ser chamado de “uniformitarianismo”, esta teoria refere que os processos que ocorreram na historia da terra foram uniformes e semelhantes aos actuais. Através da aplicação do método “actualista”, realizou as primeiras estimações de processos de velocidade, que levaram a admitir que a idade da terra era infinitamente maior que o anteriormente suposto. O autor referiu textualmente por escrito, em 1788, a possível idade da terra: “ o resultado, por tanto, da nossa investigação actual é que nos encontramos a passos dum principio, nas perspectivas dum final”. A teoria do uniformitarismo e o método actualista, que actualmente constituem um dos princípios fundamentais da estratigrafia, foram aceites pela comunidade cientifica quarenta anos depois da sua morte. Hallam (1985) descreve de maneira impecável as ideias revolucionarias de hutton, que se separavam tão radicalmente de tudo o que havia antes provocado criticas dos representantes da “geologia oficial”, declarando se a doutrina do “catastrofismo (com maior aceitação). Após 10 anos de polémica (1830-1840), abdicou se, de maneira generalizada, a teoria do “catastrofismo” e aceitou se a do “uniformitarismo-actualismo”. Hutton foi o primeiro autor que interpretou correctamente uma discordância angular.    

·         John Playfair (1748-1819), matemático e geólogo escocês. Este autor escreveu uma obra, intitulada de “Illustrations of the Huttonian Theory” editada em Edimburgo em 1820. Esta obra foi baseada nas ideias de Hutton (fazendo com que as suas ideias fossem entendidas e aceites); Playfar reuniu as observações e conclusões do mestre nesta obra bem organizada. Playfair descreveu a famosa discordância angular de Siccar Point nas encostas escocesas, na qual os sedimentos mais antigos (silúricos) depositaram-se num fundo submarino com estratificação subhorizontal. Dando-se depois a erosão dos sedimentos, com formação de uma superfície de nivelamento, sobre a qual se vem depositar os grés continental do devónico em estratos subhorizontais (como a erosão e a sedimentação são lentas levam a querer que foi necessário muito tempo).

·         William Smith (1769-1839), geólogo britânico, considerado o “pai da geologia inglesa”. Este autor foi o primeiro a desenvolver um mapa geológico detalhado de Inglaterra (Do Pais de Gales e de uma parte da Escócia), designado por “The Map That Changed The Word”. Smith teve uma notável contribuição ao demonstrar uma constante sequência em formações geológicas com áreas relativamente grandes. Para cada formação (estrato ou grupo de estratos) havia uma continuidade lateral que permite diferencia-la no mapa. Outra importante contribuição foi demonstrar que cada grupo de estratos caracterizados pelas mesmas associações de fósseis é da mesma idade relativa, caracterizando se assim o principio da correlação estratigráfica ou identidade paleontológica.

·         Georges Cuvier (1769-1832) e Alexandre Brongniart (1770-1847), paleontólogos franceses, estudaram os materiais terciários da bacia de Paris aplicando a metodologia de Smith e reconhecendo as diferentes associações de fósseis, em ambientes marinhos e lacustres. Ambos estabeleceram as bases do que actualmente conhecemos como Bioestratigrafía.



·         Charles Lyell (1797-1875), advogado de formação, ensinou geologia no Kings College em Londres (1831-1833). Lyell a sua vida á geologia subsistindo com os seus próprios meios, escreveu o livro Principles of Geology (curiosamente lançado no ano da morte de Hutton), publicado em três volumes entre 1830 e 1833, que alcançou 11 edições. Foi Lyell quem mais amplamente espalhou e defendeu as teorias huttonianas, em parte já explicadas por playfair. Partindo da ideia cíclica de erosão-deposição, Lyell necessitava que a erosão se equilibra-se com a sedimentação e a subsidência, num sistema uniforme de flutuações acarretadoras dum termo médio. Desenvolveu amplamente a teoria huttoniana do “uniformitarismo” como sistema e o “actualismo” como método, baseando-se nas suas múltiplas observações em regiões diversas (Inglaterra, Escócia, França e Itália). Nestas regiões este autor percebeu que o estrato recente podia ser categorizado de acordo com o número e proporção de conchas marinhas contidas nas rochas. Baseado nisto, propôs a divisão do período Terciário em três partes, que denominou de Plioceno, Mioceno e Eoceno. Com frequência simplificou-se a contribuição de Lyell com a frase “o presente é a chave do passado”, mas na realidade trata-se duma doutrina e dum método de trabalho, que revolucionou completamente as ideias no campo da Geologia. Lyell insistiu na ideia de que a amplitude do tempo geológico foi extraordinariamente superior a todas as estimações prévias. A publicação do famoso livro de Lyell trouxe consigo a grande controvérsia catastrofista-uniformista que acabou por volta de 1840, com a aceitação geral desta nova filisofia, proporcionando o desenrolar da Geologia.

Referência Bibliografica: