sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Estratótipo do Cabo Mondego
     fig1-Cabo Mondego


            No Cabo Mondego ( Figueira da Foz) situado a cerca de 200 km a norte de lisboa, no bordo continental da Serra da Boa Viagem, esta estabelecido o estratótipo ( GSSP-Global Boundary Stratotype Section and Point) do limite Aaleniano-Bajociano pela IUGS (Internacional Union of Geological Sciences). Este estratótipo representa sem dúvida um irrepetível  e insubstituível exemplar para a compreenção da história geológica de Portugal. Em particular, divulga alguns dos mais importantes episódios da história da Terra ocorridos durante o Jurássico, num intervalo que se situa, aproximadamente, entre os 185 e os 120 milhões de anos.  

Ao longo das falésias das praias do Cabo Mondego podemos ver o maior afloramento do período Jurássico presente na Europa. Os sedimentos de margas, calcários e arenitos encontram-se ao longo da costa desde da praia da Murtinheira (Jurássico Inferior e médio), até à baía de Buarcos (Jurássico superior). O afloramento abrange uma serie de sedimentos marinhos e fluvio-lacustres (não excedendo os 400m) que se estendem desde o andar Toarciano superior até ao andar Titoniano. Este registo, nalguns níveis, é particularmente contínuo e rico em informações paleontológicas, sedimentológicas e paleomagnéticas, que se relacionam a excepcionais condições de observação. O registo fóssil nesta zona inclui macrofósseis (lamilibrânquios, gastrópodes, bivalves, braquiópedes, plantas, peixes, crinóides, corais, ostreídeos, belemnóides e amonides), microfósseis (foraminíferos e nanoplâncton calcário) , icnofósseis e pegadas de dinossauro. No Cabo Mondego é possível a visualização de uma regressão marinha devido à erosão, que deixa a descoberto estratos que apresentam ainda uma estratificação entrecruzada. Os estratos mais antigos apresentam sedimentos de menor granulometria que os estratos mais recentes. O que pemite concluir que onde ocorreu a deposição de sedimentos pequenos (alto mar) foi mais tarde região costeira, sucedendo-se a deposição de sedimentos maiores, e sendo visível então uma regressão marinha. O Cabo Mondego tem sido obra de estudo de vários autores, um deles foi Gomes em 1884 que nos relata a existência de uma laje, com cerca de 15 pegadas tridáctilas, cuja localização (área vulnerável às marés), conduziu à sua remoção e artigo no Museu Nacional de História Natural de Lisboa.
                                     Fig3-Trilhos de pegadas do Cabo Mondego


Outras descobertas:
      • Em 1950, foram encontradas 50 novas pegadas, destribuídas em três níveis nos sedimentos do “andar” Lusitaniano na Pedra da Nau.
      • Foram ainda encontrados no mesmo “andar” peixes fósseis (Propterus microstomus) e fragmentos de peixes fossilizados próprios do género Lepidulus.
      • São encontrados no Cabo Mondego fósseis de plantas, em materiais provenientes da mina de carvão.
      • Evidenciam-se ainda muitos trabalhos sobre as associações de amonóides e o seu valor estratigráfico, assim como os nanofósseis calcários, branquiópedes e foraminíferos bentónicos.
      • Em 1972, descrevem-se detalhadamente as associações registadas de amonóides do Cabo Mondego.
      • O estudo de monofósseis calcários permitiu identificar um cojunto de 28 espécies, bem como a sua distribuição e riqueza ao longo da passagem Aaleniano-Bajociano.
      • No que diz respeito à presença de foraminíferos bentónicos, estudou-se detalhadamente o seu registo desde o Terarciano Superior até Bajociano Inferior, o que permitiu determinar a sua distribuição, bem como alguns factores condicionantes do desenvolvimento das comunidades.
      • Dados magnetostratigráficos obtidos no Cabo Mondego, revelam uma inversão de polaridade normal para inversa, no limite inferior do estratótipo do limite Aaleniano-Bajociano.
      Mais recentemente o objecto de estudo tem sido o petróleo, no âmbito da área da geologia, explorando os potências reservatórios de hidrocerbonetos na  Bacia Lusitânia.
Qualquer descoberta ou metodologia de investigação só será validada após comparação com o Cabo Mondego.
                                            

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